Em busca de uma infância de miudezas.

Atualmente muito se discute sobre infância, para inciarmos nossa reflexão voltamos ao conceito da palavra e sua origem histórica. 

Conceitualmente, Infância é o período de crescimento que vai do nascimento à puberdade, ou seja, do zero aos doze anos de idade. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, considera-se  como criança a pessoa com até doze anos incompletos, enquanto que entre os doze e dezoito anos encontra-se a adolescência. 

Etimologicamente, a palavra "infância" tem origem no latim infantia, do verbo fari = falar, onde fan = falante e in constitui a negação do verbo. Portanto, infans refere-se ao indivíduo que ainda não é capaz de falar.

Observando pela perspectiva histórica, na antiguidade, não existia o conceito de infância como conhecemos hoje, ou mesmo uma diferenciação entre as etapas do desenvolvimento humano. Na idade média iniciou-se um processo de entendimento sobre infância, que durava até os sete anos de idade, após, acreditava-se que a criança já era capaz de compreender o mundo adulto.

Na Idade Medieval, as crianças eram tidas como adultos em miniaturas, na qual as atitudes dos adultos eram refletidas nas crianças.

Foi apenas na da Idade Moderna, que a infância passou a ser vista como uma fase importante da vida dos seres humanos, e as crianças passaram a serem entendidas como seres sociais, que possuem desejos e necessidades específicas a esta etapa importante de suas vidas. 

De acordo com a teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget, a infância compreende o período do nascimento até a adolescência e é dividida em quatro estágios: sensório motor (0 - 2 anos); pré-operatório (2 - 7 anos); operacional concreto (7 - 11 anos) e operatório formal (11 ou mais).
  • Sensório motor - caracterizado pela ausência da função semiótica em que a criança não tem a capacidade de representar mentalmente os objetos.
  • Pré-operacional - a criança não adquiriu ainda a capacidade de colocar-se no lugar do outro, não possuindo o pensamento da irreversibilidade.
  • Operatório concreto - é um nível mental em que o indivíduo intervém nos raciocínios privados e nas trocas cognitivas. A linguagem passa a ser fundamental nesse processo.
  • Operatório formal - nesse estágio a criança já pensa em soluções através de hipóteses e não apenas observando a realidade. É nesse estágio que ela atinge o padrão intelectual que terá na idade adulta.


Assim, a cada etapa da infância as crianças possuem uma necessidade específica de contato e relação com o mundo. Uma vez que entendemos que as aprendizagens são construídas através das reflexões e relações com o mundo podemos qualificar nossa ação docente promovendo propostas específicas para as necessidades de cada momento do desenvolvimento das crianças, permitindo que ela tenha o seu tempo para assimilar e acomodar suas aprendizagens, ressignificando conhecimentos anteriores e criando novos.

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Fonte: https://www.altoastral.com.br/brincar-livre-estimula-imunidade-crianca/
No espaço da escola podemos criar um ambiente que engaiole as crianças e que faça com que apenas reproduzam os conhecimentos que "aplicamos" à elas. Ou podemos criar uma ambiente que possibilite às crianças criarem asas e alcançarem altos voos. 

Para que os professores possibilitem esse "voar" das crianças, é preciso estar atento às miudezas da infância, observando os pequenos detalhes do dia-a-dia, que muitas vezes passam despercebidos. Os sons, aromas, cores, o silêncio, a música, o grão de areia, o pingo de chuva...

"Miudeza é aquele tempo que destinamos para contemplar o céu, o pôr do sol... Miudeza é aquele tempo que a criança destina para observar uma formiguinha, para colocar uma folhinha na água corrente e vê-la descer rua abaixo."

Essa é a real infância, o momento dos detalhes, em que coisas tão pequenas possuem significados grandiosos. 

A infância é o tempo de criações e invenções, em que a criança tem a possibilidade de ser autora, dona do seu próprio saber. E cabe à escola instigar as crianças à fazerem perguntas e não de ensiná-las as respostas.

É um tempo poético, tempo de criação que nos faz ser o que somos. Infelizmente nem toda criança tem esse tempo de ser criança e é aí que entra o papel da escola de educação infantil, de permitir esse tempo às crianças, criando uma infância de detalhes e miudezas.

"As crianças precisam da liberdade do brincar para crescer em harmonia com a vida."


Referência

BUENO, Marcelo Cunha. No chão da escola: por uma infância que voa. Editora Passarinho - SP, 2018.

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