No chão da escola: por uma infância que voa
RESENHA
No chão da escola: por uma infância que voa
Marcelo Cunha Bueno é professor e filho de professora, entrega-se ao processo de educar e entende-o como uma forma de agradecer ao mundo todas as aprendizagens que lhe são propiciadas ao ensinar nas miudezas da vida.
Com uma linguagem simples e rica em detalhes, Marcelo Cunha Bueno nos apresenta reflexões sobre o dia-a-dia nas escolas, nos fazendo refletir sobre as miudezas e a importância do tempo da criança, de seu protagonismo na construção de seus conhecimentos por meio das interações e brincadeiras.
"Educação é esse espaço entre coisas, esse espaço que se abre para o que ainda não existe e aquilo que depende de nós."
O livro é dividido em 17 capítulos, que abrangem a rotina da escola de educação infantil, desde o acolhimento e as relações entre família e escola, até as reflexões sobre as tão polêmicas datas comemorativas no âmbito da escola.
O autor faz provocações sobre o que entendemos por infância, apresentando alguns conceitos sobre o termo, como sendo um lugar de descoberta, que necessita de espaços, como um tempo de miudezas, de experiencias e experimentações, de disposição atenta ao mundo, um tempo de invenções e por fim, tempo de relações.
A escolha da escola pelas famílias é problematizada, pela viés do que as famílias querem versus o que as crianças precisam. Aborda a necessidade dos professores de lutarem por aquilo que acreditam e não deixarem ser tomados pelos apostilados e pela "marca" da escola. Aposta no professor que faz a diferença, que vê os pequenos detalhes, que cria uma identidade conceitual e autoral, não cedendo aos modismos.
"Professor é um encantador de pessoas, sua melodia são as intenções, sua música é convite para o mundo, professor é cantador de um mundo melhor." (BUENO, 2018, p.25)
REFLEXÕES
Educação como coexistência!
Conviver com pessoas que pensam diferente do que pensamos, trocar ideias, interações e relações, cooperar. A educação seria mais leve se provasse sensações, experiências, contatos, formas de agregarmos o outro em nossas vidas, EMPATIA.Uma infância plena, seria se a criança pudesse habitar o mundo e ser habitada por ele, que pudesse ser criador e criação, constituindo-se através dessas relações.
Entender que, enquanto educadores, não formamos alunos, mas sim, formamos gente, gente capaz de fazer a diferença, que pensa fora da caixa, reconhecendo que cada uma traz consigo seu saberes e que todos os dias essa mistura de saberes vai constituindo os seres que estão em formação, como a nós mesmos.
Pensando sobre a sala de aula....
A sala de aula deve ser vista como um cenário de ideias, em que todos os pensamentos são bem vindos, um espaço que permita o pertencimento, que mostre que mesmo a criança não estando presente, ali estão suas marcas. Que perceba-se a presença da infância.
"Um espaço de concretização de ideias, não de reprodução de conteúdos.
Um espaço de grupo, coletivo, generoso, não de controle e classificação de corpos.
Um espaço onde tudo cabe, não somente o que é imposto pelos currículos normatizadores e apostilados.
Um espaço de abstrações, de plasticidade intelectual, de repertório, não um espaço de recognição, decorebas e exercícios de prontidão.
Um espaço de referências estéticas e éticas, não um espaço padrão, composto pelas mesmas mesas, cadeiras e lousas." (BUENO, 2018, p.47)
Assim, nessa perspectiva a sala de aula precisa ser um ambiente neutro, sem muitas decorações e cartazes que normalmente roubam a cena. Para serem substituídas por trabalhos e criações das crianças, para que possam imprimir nelas sua personalidade.
A sala pode ser vista como um espaço que reconstitui-se conforme as pesquisas e estudos das crianças, abrindo a possibilidade de reinvenção do caminho do olhar. Normalmente as salas possuem as criações das crianças de forma vertical, mas porque não tê-las no chão, no teto ou suspensas? Inspirar-se em grandes instalações é o caminho para criar um ambiente que também instigue a reflexão sobre as próprias criações.
Esses espaços podem ser vistos como parte integrante do desenvolvimento do tema de pesquisa. Por exemplo: se está se pesquisando sobre o mar, a sala de aula pode virar o fundo do mar com materiais que se encontram neste habitat, como também lençóis no teto reproduzindo as ondas, bandejas de experimentação com areia e conchas, peixes e outros animais marinhos presentes por todo o espaço.
A escola precisa ter espaço para as crianças se movimentarem, criarem, experimentarem, descobrirem e desenvolverem-se.
"Sem durezas, mais levezas!"
BUENO, Marcelo Cunha. No chão da escola: por uma infância que voa. Editora Passarinho - SP, 2018.
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